No último período deste ano letivo, tivemos a oportunidade de entrevistar Gonçalo Peixoto. O designer de moda é uma das 30 personalidades com menos de 30 anos incluída na primeira edição da versão portuguesa da lista 30 Under 30 da revista Forbes.
Foi uma entrevista realizada num ambiente calmo e cheio de livros e de histórias, a Biblioteca da EB1 de Gualtar, com um jovem afável, cheio de projetos e ideias, um olhar cheio de "futuro" e muita, muita boa disposição. Muito obrigada, Gonçalo Peixoto!
Qual o teu nome completo e a tua idade?
O meu nome completo é Gonçalo Agostinho Vale Peixoto e tenho 26 anos.
Podes falar-nos um pouco sobre o teu percurso escolar?
O meu percurso escolar começou numa escola mesmo ao lado de
casa. Seguidamente fui para a Didáxis, onde me evidenciei por ser muito responsável, bem-comportado, calmo e dedicado. No curso profissional enveredei pelo estudo do design e da moda. Sempre me interessei muito por aprender e valorizo a escola e tudo o que ela tem para nos ensinar. Estudar é muito importante.
Quando eras criança, com que sonhavas?
O meu sonho era ser treinador de golfinhos, mas rapidamente percebi que não era bem esse o meu destino, pois gostava muito de criar e dar largas à minha imaginação. Desenhar, e em particular desenhar roupa, foi sempre um prazer enorme.
Quando descobriste que querias ser estilista?
Tinha 16 anos quando tive a certeza de que queria seguir uma carreira ligada à moda.
5 Quem te ajudou a concretizar os teus sonhos?
Os meus Pais tiveram um papel muito importante e são os enormes responsáveis por este meu percurso. A minha família tem uma empresa que trabalha numa área diferente e foi complicado perceberem que não era naquele ramo que eu queria trabalhar. Há dez anos atrás não era muito comum um jovem tornar-se estilista, daí a sua renitência em compreenderem o meu sonho. Todavia, a minha persistência e força de vontade venceu e hoje sinto um enorme orgulho e gratidão pelo apoio incondicional dos meus pais. Acreditaram em mim e nas minhas potencialidades.
O que te levou a querer ser estilista?
O facto de eu ir com a minha mãe às compras, de a ajudar a escolher as roupas e os acessórios dava-me um enorme gozo. Como estilista sinto que o meu papel é um pouco o de um psicólogo que orienta a outra pessoa para que esta se sinta melhor, mais valorizada, mais confiante. agrada-me pensar que como designer contribuo para o bem estar das pessoas.
Há quanto tempo és estilista?
Apesar de ser muito novo, tenho 26 anos, comecei aos 16 anos. Por isso, trabalho neste área há 10 anos.
Qual é a tua opinião sobre a Moda em Portugal?
A moda em Portugal tem crescido e tem vindo a tornar-se uma indústria com um papel incrível a nível internacional. As grandes marcas internacionais, nomeadamente as marcas de luxo, encontram no nosso país um potencial de fazer e criar quase inigualável. Temos costureiras muito qualificadas e competentes cujo trabalho é muito valorizado e procurado. Somos um país que tem muito para dar em termos de moda, a nova geração de designers tem quebrado algumas barreiras e possibilitado a internacionalização da Moda portuguesa. Eu próprio faço desfiles de Moda nas grandes capitais europeias, Milão e Paris, por exemplo, e o facto de mostrarmos o que se faz em Portugal é um enorme passo para a consolidação da Moda portuguesa.
Achas que os portugueses são vaidosos? Porquê?
Sim, sobretudo no Norte do país. O Norte é mais vaidoso, julgo que as pessoas têm mais cuidado e atenção na forma como se apresentam. De um modo geral considero que os portugueses se preocupam e cuidam da sua imagem. mas sublinho
Consideras que há condições para que a indústria da Moda floresça em Portugal?
Se há 10 anos valorizávamos tudo o que era estrangeiro e preteríamos o que era português, hoje em dia damos mais valor ao que é português, pois percebemos que em Portugal se faz bem e com qualidade.
Na minha opinião é fundamental darmos mais valor a tudo o que é português e acredito que cada vez mais se compra e continuará a comprar o produto nacional.
Na tua opinião, quais são as características de um bom cliente? E de um cliente difícil?
Um bom cliente é aquele que acredita no trabalho do designer. Quero com isto dizer que a confiança que o cliente deposita no criador dá a este último mais liberdade de ação e criatividade. Um bom cliente compreende que a criação de uma peça é algo que segue um processo criativo e que, por isso, é algo personalizado e feito à medida por trabalhadores qualificados e não é um produto fast fashion, produzido em massa em fábricas sem condições, muitas vezes recorrendo ao trabalho infantil.
Gostarias de ser modelo?
Não!
As modelos são geralmente muito magras. Considera que isso condiciona os hábitos alimentares das adolescentes de uma forma negativa?
As modelos são geralmente muito magras, pois essa é a imagem a que o público em geral, se habituou a ver. Contudo, essa realidade tem vindo a alterar-se. Como designer, nos meus desfiles estou a tentar que as modelos sejam o mais ‘normais’ e com corpos mais reais.
Na tua opinião, por que razão é que as crianças e adolescentes andam todas com roupas tão idênticas?
Essa questão prende-se com o conceito de que falei numa anterior questão, o conceito de fast fashion. Se vamos todos ao mesmo local comprara as roupas, é muito provável que compremos todos o mesmo tipo de roupa - mesmo modelo a mesma cor. Não esqueçamos que as lojas que vendem em grandes quantidades se orientam pelas chamadas ‘tendências’ que são criados pelas grandes marcas internacionais e designers internacionais. A grande força das lojas como a Zara, por exemplo, é a sua capacidade de produzir enormes quantidades de roupa a preços muito competitivos.
O Mundo da Moda é muito competitivo. Já pensaste em internacionalizar-te?
Já dei alguns passos importantes no sentido da internacionalização, nomeadamente nos desfiles que faço e tenho muitos clientes de outros países, como França, Itália. Pessoalmente adorava ter uma experiência no estrangeiro, mas tenho muitas responsabilidades com costureiras que trabalham comigo. Neste momento, o sonho de sair para outro país não pode sobrepor-se às minhas obrigações profissionais. Sinto que, por agora, a minha internacionalização passa pelos desfiles que faço no estrangeiros, pois são uma excelente forma de o meu trabalho ser conhecido.
Hoje em dia, as pessoas compram cada vez mais online. Acha que as lojas físicas vão desaparecer no futuro próximo?
Na minha opinião as lojas físicas vão existir sempre, porque os clientes gostam de experimentar e a compra é imediata. As compras online implicam esperar pela encomenda, que pode demorar alguns dias a chegar a casa. As lojas físicas permitem a rapidez que ainda não existe no online.
Que peças de roupa consideras imprescindíveis?
Eu crio roupa para o público feminino. Neste sentido posso dizer-vos que para uma mulher considero imprescindível um vestido preto, um blazer preto, umas boas calças de ganga e um tank top.
Podes dizer-nos quais as tendências e as cores para este Verão?
Eu acho que a palavra “tendência” vai desaparecer, e vai dar lugar à ideia de que é importante sentirmo-nos bem connosco próprios. Esta sensação de estarmos felizes na nossa própria pele deve ser a “tendência” – sermos mais livres, mais soltos, mais confiantes para enfrentar o dia-a-dia e, assim, ser mais felizes.
Finalmente… Consideras-te um leitor? Qual é o teu género literário favorito?
Eu gosto de ler. Ler traz-nos novas aprendizagens, novas capacidades, alarga os nossos conhecimentos, o nosso vocabulário. Uma das minhas primeiras coleções de moda foi inspirada numa história que li, porque ler incita à nossa imaginação, permite-nos visualizar um mundo verosímil que pode ser materializado, no meu caso, através da criação artística.
Hoje em dia, a minha vida profissional é extremamente ocupada e ainda que isto não seja uma desculpa, é um facto que impede que leia tanto quanto desejaria. Ainda assim tenho lido livros sobre o desenvolvimento pessoal e humano, porque me fascina compreender como nos podemos tornar melhores pessoas, como podemos contribuir para um mundo melhor.
Jornalistas: Elisa Paiva; Francisca Lopes; Gabriela Branco; Maria Dinis Vale
Um excelente testemunho do que tão bem se faz em Portugal! Uma entrevista muito desejada por estas pequenas e talentosas jornalistas, que se revelou num afável, inspirador e enriquecedor momento, parabéns!